Gerenciamento de carreira em tempos de incerteza
Muitas das práticas corporativas mais populares vêm da doutrina militar. Termos como "estratégia" e "posicionamento" tem alta conotação bélica, mas até a doutrina militar mudou.
Por André Massaro , www.administradores.com.br
O que alguém que vem da área de finanças e de mercado de capitais tem a ensinar sobre como conduzir um plano de carreira? O dinamismo e a incerteza dos mercados financeiros nos fazem ver as coisas de uma forma um pouco diferentes do habitual. Qualquer tentativa de antecipar os movimentos futuros do mercado é futilidade, ingenuidade ou, em situações mais extremas, puro charlatanismo. Uma das primeiras lições que aprendemos no mercado (e geralmente essa lição vem com um pouco de dor...) é que o que realmente importa não é o que você vai fazer, mas sim "o que você vai fazer se aquilo que queria fazer der errado"...
Essa visão vem ainda de encontro aos primórdios da minha vida acadêmica. Quando entrei na faculdade, no final dos anos 80, era o auge da infame "reengenharia". A minha geração profissional foi formada em uma situação, no mínimo, ambígua. Aprendíamos sobre as coisas que o mercado buscava em um profissional. E ao mesmo tempo assistíamos "de camarote" a executivos (às vezes os próprios país dos colegas de escola) caírem como moscas. Eram aqueles executivos que haviam feito "tudo direitinho", feito todos os cursos, lido todos os manuais, fizeram aquilo que lhes disseram que era certo... De uma hora para a outra a realidade mudou, todos ficaram obsoletos e foram devidamente "reengenheirados".
Muitas das práticas corporativas mais populares vêm da doutrina militar. Termos como "estratégia" e "posicionamento" tem alta conotação bélica, mas até a doutrina militar mudou. Hoje se fala em "guerra assimétrica", onde o inimigo não é mais um exército organizado, e sim um terrorista em um ambiente urbano caótico, onde não é possível distingui-lo de cidadãos comuns e inocentes. A zona de guerra é um ambiente mais dinâmico e incerto do que jamais foi, e muitos teóricos militares dizem que estamos deixando a "era da estratégia" e entrando na "era das contingências". Hoje um bom plano de contingência vale tanto ou mais que uma boa estratégia.
Saindo um pouco do front e voltando para a nossa realidade profissional, o Brasil hoje passa por um momento econômico promissor. A economia está aquecida, e alguns entendidos do assunto dizem que o mercado de trabalho também está. Estamos em uma situação "confortável"... Talvez tão confortável quando nos dias "pré-reengenharia", onde o gerenciamento da carreira não era uma coisa com que se preocupar.
Mas há algo, no mínimo, estranho no ar. Os sábios chineses já diziam que "o rabo não balança o cachorro". O Brasil está indo bem enquanto os EUA e a Europa Ocidental naufragam, e até mesmo os chineses começam a apresentar sinais de cansaço. Podemos, muito em breve, ter um novo "chacoalhão" por aqui. O que vamos fazer dessa vez?
Um bom plano de carreira para situações de incerteza e contingências deve se apoiar em duas coisas: Uma honesta e profunda avaliação de nossas realizações e fraquezas, e um plano de aprendizado e desenvolvimento pessoal que dê ênfase na versatilidade e na capacidade de adquirir novas habilidades rapidamente.
À medida que a realidade à nossa volta fica mais caótica e dinâmica, as carreiras deverão, igualmente, ficar menos lineares rumo às posições de topo das organizações. O plano de carreira será, cada vez mais, um plano de aprendizado, pois faremos muitas coisas novas e que não prevíamos. E será preciso dar ênfase não às habilidades em si, mas sim às chamadas "meta-habilidades", que são "habilidades que criam habilidades". São normalmente as habilidades relacionadas ao aprendizado e à comunicação. Conhecer de cor e salteado os mais modernos modismos gerenciais, todas as atuais práticas contáveis e para que serve cada função daquele ERP de última geração tem o seu valor, mas esse tipo de habilidade rapidamente fica obsoleta e perde valor.
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